quinta-feira, 22 de junho de 2023

Piorou demais nos últimos dez anos

Eu assisti a todo o tombo, desde o momento em que ela trupicou, não conseguiu se manter em pé, foi caindo, não conseguiu amparar a queda e bateu de cara no chão. Foi um tombo muito feio, bem na minha frente, a uma distância de uns cinco metros. Eu estava no ponto de ônibus e a vi se aproximar, tropeçar e cair. Aos poucos, em etapas, quase em câmara lenta, eu assistindo e esperando, sabendo o que acontecia, na expectativa de que ela não fosse ao chão, que não machucasse, mas foi e machucou.

É um lugar em que já vi várias pessoas tropeçarem, mas nenhuma ainda tinha ido ao chão. Já comentei com elas, já fui olhar o que é, de longe não dá para ver e não me lembro bem, mas acho que é uma elevação no cimento. Nossos passeios são um horror, há alguns anos eu mantive este blogue Passeio é pra pedestre, mas a crise política tornou-o quase um luxo, diante de tantas desgraças que caíram sobre nós. Nos últimos oito anos, desde o post anterior, as coisas pioraram gigantescamente -- como os desastres climáticos.

Várias vezes eu mesmo, que ando muito, tropeço no passeio. Esse ponto, em frente o Senai, na Avenida Antônio Carlos, é impressionante, porque pega quase todo mundo que passa vindo na direção do Centro. A mulher caiu e ficou, eu corri para acudi-la, ajudei-a a levantar, foi difícil, ela era pesada e eu não tenho muita força, lembrei do caso, há um ano e meio, em que tentei levantar um idoso no vestiário do clube e não consegui, ainda de quebra tive um jeito imediato na coluna que me levou a ortopedistas e quatro meses de sessões de quiropraxia, o que me salvou. 

Mas só lembrei disso quando já estava fazendo força para levantar a mulher. Felizmente, dessa vez não tive nada. A mulher se levantou com dificuldade, estava sangrando no nariz e na boca, tinha um hematoma sob o olho direito, eu a ajudei a caminhar e sentar no banco do ponto de ônibus. Um motoqueiro parou e indicou que um par de óculos tinha ficado no chão, eu voltei e peguei-o. A mulher estava meio abobalhada, tirou um lenço da bolsa e começou a se limpar, eu procurava entender a extensão do ferimento, o que fazer, mas sou péssimo nessas horas, não sei que providência é adequada. 

Enquanto isso, um morador de rua, que estava sentado no ponto de ônibus, um homem forte, de uns quarenta ou cinquenta anos, que tinha me pedido dinheiro e com quem eu vinha conversando, que viu o tombo, mas não foi acudir a mulher, nem eu lembrei de convocá-lo a me ajudar, agora falava alto para mim: "Chama o Samu! Chama o Samu!". E eu fiquei irritado com ele, porque sempre me irrito com pessoas me dando ordens, mas depois fiquei pensando que talvez ele tivesse razão, mas eu não tinha experiência de uma situação assim, em que eu tivesse de tomar providências, não tive expediente, fiquei, como sempre fico, pensando no que é mais adequado, se é preciso tomar medidas urgentes e drásticas, se a situação vai se resolver sozinha, se a pessoa vai tomar providências ela mesma, decidir, pedir, mas a mulher parecia abobalhada, não falava nada, e o morador de rua repetia: "Foi queda de pressão. Chama o Samu". 

Talvez ele estivesse certo, mas eu estava esperando a mulher se recuperar, e ela disse: "Vou pro hospital da Previdência, chama um táxi pra mim". Não sei se era a solução adequada, mas fiz sinal para um táxi, o motorista diminuiu, mas não parou, não sei por que, se porque pressentiu problema, acelerou e passou direto. Em seguida, porém, outro carro parou e a mulher entrou nele. Antes, virou-se e agradeceu a ajuda.

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